No âmbito de um protocolo de cooperação entre a Câmara Municipal de Lisboa e o Camões — Centro Cultural Português em Maputo, o programa anual de residência artística destina-se a artistas visuais e/ou fotógrafos moçambicanos que já tenham currículo na área e pretendam desenvolver um projeto coerente, consistente com o percurso artístico do candidato, pertinente na proposta de relação com a cidade de Lisboa e com reconhecido interesse no âmbito da arte contemporânea.

Mário Macilau é o artista selecionado para a 3ª edição da residência artística com o projeto PassPort. Macilau pretende investigar, no âmbito do registo fotográfico efetuado aquando da emissão ou renovação do passaporte, o contraste entre as exigências globalizadas de identificação e a identidade subjetiva. Macilau defende que os dados biométricos exigidos nos dias de hoje deixam pouca ambiguidade na identidade do titular de um passaporte. PassPort contrapõe o retrato oficial de um cidadão com uma imagem pessoal do mesmo.

A intensão de Macilau é utilizar como ponto de partida a cidade de Lisboa e os artistas que nela habitam e(ou) trabalham, naturais ou estrangeiros, os quais por sua vez podem ter por hábito circular por outros países. Macilau considera que cada artista acaba por renunciar da sua identidade pessoal quando se disponibiliza para a captação de dados oficiais para este tipo de documento. “O retrato a longo-prazo da fotografia oficial oferece uma âncora de identidade ou isso oprime a diversidade?” é a questão que coloca.

Macilau pretende, durante a residência artística em Lisboa, estabelecer um diálogo e uma relação com outros artistas e instituições culturais, no sentido de perceber a sua perspetiva sobre esta temática e propor a eventual participação dos mesmos no projeto.

Mário Macilau (Maputo, 1984) vive e trabalha em Maputo.  Após a Independência e durante a Guerra Civil em Moçambique a sua família passou grandes dificuldades financeiras e mudou-se da província de Inhambane para Maputo à procura de uma vida melhor. Aos 10 anos, Macilau começou a trabalhar num mercado para ajudar o sustento da família. Fotógrafo autodidata desde 2003, Macilau foca o seu trabalho em nichos da sociedade do seu país. O seu percurso tem vindo a ser reconhecido nacional e internacionalmente mediante prémios, a apresentação do seu trabalho em exposições individuais e coletivas, bem como a participação em diversas feiras de arte e residências artísticas.