A Rede Camões e a Escola Portuguesa de Moçambique homenageiam o escritor, professor e jornalista Calane da Silva, recentemente falecido. Vencedor do Prémio Craveirinha e uma das mais proeminentes figuras das letras moçambicanas nas últimas décadas, Calane da Silva colaborou em inúmeras iniciativas da Rede Camões em Moçambique. Esta homenagem integra um conjunto diversificado de atividades de diferentes domínios, destacando-se a leitura e a dramatização de textos selecionados deste consagrado escritor, assim como a realização de uma exposição/instalação elaborada a partir de excertos de textos, fotografias do autor e desenhos/ilustrações produzidos por alunos da Escola Portuguesa de Moçambique.
Calane da Silva, de nacionalidade moçambicana, de seu nome completo Raul Alves Calane da Silva, nasceu na cidade de Lourenço Marques (atual Maputo) a 20 de Outubro de 1945. Iniciou a sua vida literária exatamente em Nampula, a 18 de Maio de 1968, através de uma exposição de poesia ilustrada realizada no antigo Clube Niassa, atual edifício do Conselho Municipal. Foi jornalista profissional durante 25 anos, tendo chefiado as redações dos principais órgãos de informação nacionais. Mestre e também Doutor pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal foi, durante largos anos e depois de aluno, docente na Universidade Pedagógica de Maputo.
Foi dirigente de várias instituições culturais. Membro fundador da Associação dos Escritores Moçambicanos, da qual foi vogal, Secretário-Geral Adjunto e Presidente; membro fundador da Associação Moçambicana da Língua Portuguesa, da Organização Nacional de Jornalistas, atual Sindicato Nacional de Jornalistas, do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) órgão da CPLP, tendo sido Presidente do Conselho Científico do referido IILP. É membro da Comissão Nacional da Bioética e Presidente do Grupo Associativo Arco-Íris, Fitoterapia Ciência e Espiritualidade. Foi durante muitos anos Diretor do Centro Cultural Brasil Moçambique, um cargo do foro diplomático.
Publicou mais de 17 livros entre obras literárias (poesia, contos, romance e literatura infantil), assim como obras de foro académico entre ensaios e investigação na área linguístico-literária. Foram-lhe outorgados vários prémios literários e alguns galardões nacionais e internacionais como, por exemplo, o Prémio Literário 10 de Novembro, o Prémio José Craveirinha, o maior galardão literário do país, o Prémio Carreira, atribuída em 2013 pela AMEP (Associação Moçambicana de Empresas de Publicidade); o Prémio “Excelência na Pesquisa” que lhe foi outorgado pela Reitoria da Universidade Pedagógica por ocasião das comemorações dos 30 anos daquela Instituição de Ensino Superior; a Medalha de Mérito de Artes de Letras Outorgado pela Presidência da República de Moçambique e ainda inúmeros diplomas de honra no âmbito académico e da cultura nacional. Foi galardoado, em 2010, com a Comenda da Ordem do Rio Branco pelo Presidente da República Federativa do Brasil.
Calane da Silva foi, ainda, ator de teatro e de cinema, guionista de alguns filmes moçambicanos e coautor da letra do atual Hino Nacional bem como declamador de poesia, com um CD já editado pela Universidade Eduardo Mondlane. Em 2015 foi honrado com um grande espetáculo cultural em sua homenagem, pelo agrupamento musical TP50.
O Camões - Centro Cultural Português em Maputo foi também a sua casa desde sempre. Notabilizou-se pela colaboração com os Leitores do Camões associados quer à Universidade Pedagógica (aliás seus colegas, no outrora Instituto Superior Pedagógico) quer à Universidade Eduardo Mondlane, uma colaboração que teve os pontos mais altos na participação aos Cursos de Literaturas em Língua Portuguesa, atividade que ele abraçava com invulgar entusiasmo. Muito recentemente destacam-se o Curso de Escrita Criativa, que ele ministrou em novembro de 2019, no Camões-CCP, e a preparação da seleção dos textos que constituiu a homenagem aos escritores Prémio Camões, por ocasião dos festejos do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em 2020.
A figura de Calane da Silva é sobretudo emblemática no que diz respeito à defesa da promoção, estudo e divulgação da língua portuguesa em Moçambique, atividade que ficou bem patente na sua passagem como Presidente do Conselho Científico do IILP e como membro ativo da AMOLP-Associação Moçambicana da Língua Portuguesa.