A exposição “Murais, Makeba e Moçambique” reúne desenhos preparatórios e maquetes produzidas para dois grandes projetos investigativos recentes: Pan African Unity Mural (2018) que partiu da adaptação de um mural pintado por um grupo de ativistas de pintura mural que a artista integrou nos anos 80, o CAP Muralist Group. O mural original foi pintado na Community House, Salt River em Cape Town e celebra a luta contra o apartheid; e Dalaba: Sol d’Exil (2019), instalação ainda patente na Culturgest do Porto, que remete para a casa de exílio construída e habitada pela cantora e ativista Sul-Africana Miriam Makeba na Guiné Conakry. A instalação consiste no desmembramento da casa em partes que a artista considerou serem mais significativas da vivência de Makeba, a varanda que permitia visionar a paisagem que lhe lembrava a sua terra natal, o portal modernista de entrada da casa, assim como o formato cónico do telhado em chapa de zinco que lembra a estrutura rodável da casa.

Nesta mostra incluem-se ainda desenhos de alguns projetos que se debruçam sobre a história de Moçambique como For Mozambique (2008) ou A Tendency to Forget (2015).

E exposição fica patente de 4 de setembro (às 17h30) a 4 de novembro, de segunda a sexta, entre as 10h00 e as 20h00, e domingos e feriados entre as 10h00 e as 15h00.

Ângela Ferreira nasceu em 1958 em Maputo, Moçambique. Em 1973 viajou para Lisboa onde viveu durante dois anos, testemunhando a revolução do 25 de Abril de 1974. Em 1975 mudou-se para a Cidade do Cabo, África do Sul, onde estudou escultura na Michaelis School of Fine Arts, concluindo o curso em 1981 e terminando o MFA (Master in Fine Arts), também em escultura, em 1983.

Lecionou na Cidade do Cabo e em Stellenbosch, na África do Sul, e no início dos anos 90 mudou-se definitivamente para Lisboa, onde atualmente vive e trabalha, sendo desde 2003 professora na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. O seu trabalho é fortemente marcado por uma dimensão política, especificamente pelo impacto do colonialismo e pós-colonialismo na sociedade contemporânea, através de uma investigação profunda realizada pela própria artista. Recorrendo frequentemente a estruturas e elementos arquitetónicos que conferem ao seu trabalho uma ambiguidade de relações formais e espaciais, a sua obra situa-se no cruzamento entre a ideologia do construtivismo russo (na relação entre as formas abstratas geométricas e a dimensão política) e a exploração de momentos marcantes da sua própria vivência pessoal, social e geográfica. Sendo a escultura a base da sua prática, a artista cria sobretudo instalações onde incorpora outros media para além dos objetos escultóricos (vídeos, desenhos, fotografia, textos) que aprofundam o significado de cada obra.

Expôs individualmente pela primeira vez em 1990 e desde então tem participado em inúmeras exposições individuais e coletivas em Portugal e no estrangeiro.