Com o objetivo de se assinalarem os cem anos do nascimento de Eduardo Lourenço, Natália Correia, Urbano Tavares Rodrigues e Mário Cesariny, entre 11 de outubro e 04 de novembro, estará patente uma exposição, na Biblioteca do Centro Cultural Português da Beira, alusiva à vida e obra dos escritores.
A cerimónia de inauguração da exposição “Centenários 2023” terá lugar no dia 10 de outubro, às 17h30, e combinará atividades literárias com momentos culturais.
Eduardo Lourenço nasceu a 23 de maio de 1923, em São Pedro de Rio Seco, no concelho de Almeida, na Beira Alta, Portugal. Frequentou a Escola Primária na sua terra natal, ingressou no Liceu da Guarda e terminou os seus estudos secundários no Colégio Militar em Lisboa. Formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Coimbra, onde foi professor entre 1947 e 1953. Lecionou em várias universidades, como a da Bahia, Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, Grenoble e Nice. Fixou residência em Vence, na Provença, no sudeste da França. Publicou o seu primeiro livro "Heterodoxia I", em 1949, e tornou-se professor jubilado em Nice, em 1988. Em 1989 assume funções como conselheiro cultural junto da Embaixada Portuguesa em Roma. Colaborador de longa data da Fundação Calouste Gulbenkian, foi administrador não executivo entre 2002 e 2012. O Centro de Estudos Ibéricos criou o "Prémio Eduardo Lourenço", atribuído desde 2005, e destinado a agraciar personalidades ou instituições com intervenção relevante no âmbito da cultura, da cidadania e da cooperação ibéricas. Foi um dos principais signatários do Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico de 1990. Em 2015 foi criada pela Câmara Municipal de Coimbra, a sala "Eduardo Lourenço", na Casa da Escrita, destinada aos seus livros. Tomou posse a 7 de abril de 2016 como Conselheiro de Estado, designado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Recebeu diversos prémios, entre eles o "Prémio Camões" (1996), o Prémio Pessoa (2011), e condecorações portuguesas e estrangeiras. Escreveu várias obras sobre a sociedade e identidade portuguesa e tem uma biblioteca com o seu nome na Guarda. Em 2018, foi protagonista e narrador da sua própria história, no filme "O Labirinto da Saudade", realizado por Miguel Gonçalves Mendes. Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa, morreu no dia 1 de dezembro de 2020, com 97 anos.
Natália Correia (1923 - 1993), mulher de paixões, casou quatro vezes ao longo dos seus 70 anos. Fez televisão, foi jornalista, dramaturga, poetisa e estreou-se na ficção com o romance infantil «Aventuras de um Pequeno Herói», em 1945. Nasceu nos Açores em 1923 e aos 11 anos desloca-se para Lisboa. Foi jornalista no Rádio Clube Português e colaborou no jornal Sol. Ativista política: apoiou a candidatura de Humberto Delgado; assumiu publicamente divergências com o Estado Novo e foi condenada a prisão com pena suspensa em 1966, pela «Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica». Deputada após o 25 de Abril, fez programas de televisão destacando-se o “Mátria” que apresentava o lado matriarcal da sociedade portuguesa. Fundou o bar “Botequim”, onde cantou durante muitos anos, transformando-o no ponto de reunião da elite intelectual e política nas décadas de 1970 e 80. Organizou várias antologias de poesia portuguesa como “Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses” ou “Antologia da Poesia do Período Barroco”. Natália Correia foi uma versejadora de êxito, uma mulher carismática com uma vida social intensa, não fez concessões à mediania e notabilizou-se por uma vasta obra intelectual.
Urbano Tavares Rodrigues não é apenas o grande escritor do Alentejo, das suas gentes e das suas paisagens, é também o romancista e contista de Lisboa e de outras atmosferas cosmopolitas que, como jornalista e professor universitário, bem conheceu, viajando por todo o mundo.
Catedrático jubilado da Faculdade de Letras de Lisboa, membro da Academia das Ciências, tem uma obra literária e ensaística muito vasta e traduzida em inúmeros idiomas, do francês e do espanhol ao russo e ao chinês. Obteve diversos prémios, entre eles o de Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, o prémio Fernando Namora, o Ricardo Malheiros da Academia das Ciências, etc.
De entre os seus maiores êxitos de crítica e de público, lembramos A Noite Roxa, Bastardos do Sol, Os Insubmissos, Imitação da Felicidade, Fuga Imóvel, Violeta e a Noite, O Supremo Interdito, Nunca Diremos Quem Sois, A Estação Dourada.
Urbano Tavares Rodrigues, que foi afastado do ensino universitário durante as ditaduras de Salazar e Caetano, participou ativamente na resistência e foi preso e encarcerado por várias vezes nos anos sessenta.
Faleceu no dia 9 de agosto de 2013, em Lisboa.
Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu no dia 9 de agosto de 1923, em Lisboa. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudou música com o compositor Fernando Lopes Graça. Em 1947 vai para Paris estudar na Académie de la Grande Chaumière, onde conhece André Breton, o autor do "Manifesto Surrealista", e ao regressar, nesse ano, cria o "Grupo Surrealista de Lisboa". Mais tarde, funda um grupo dissidente deste, "Os Surrealistas". Publicou o seu primeiro livro "Corpo Visível" em 1950, e seguiram-se outras publicações, sendo a maioria após a Revolução de 25 de Abril de 1974. Em 2002 é-lhe atribuído o Grande Prémio EDP de Artes Plásticas. Em 2004, Miguel Gonçalves Mendes realiza o documentário "Autografia", um retrato da vida, do percurso e individualidade do poeta e pintor surrealista Mário Cesariny, e em 2005, recebe o Grande Prémio de Vida Literária APE/CGD, prémio literário instituído pela Associação Portuguesa de Escritores. É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade de Portugal, pelo Presidente da República Jorge Sampaio. No nonagésimo aniversário do poeta é inaugurada uma rua com o seu nome em Lisboa. A Casa da Liberdade, inaugurada em novembro de 2013, situada no Bairro de Alfama, em Lisboa, é um espaço artístico, polivalente, com características museológicas, que presta homenagem ao poeta e pintor surrealista Mário Cesariny de Vasconcelos. Em vida doou o seu espólio (parte da sua biblioteca e do seu acervo artístico e documental) à Fundação Cupertino de Miranda, e por testamento escolhe como herdeiros, as crianças da Casa Pia. Foi poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo, e dedicou-se às artes plásticas, sobretudo à pintura. Morreu no dia 26 de novembro de 2006, e foi sepultado no Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Em 8 de dezembro de 2016, os restos mortais do poeta foram trasladados para um jazigo individual, numa cerimónia presidida pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.
Inauguração 10 de outubro, às 17h30.