O moçambicano Daúde Nossi Amade, que concorreu sob o pseudónimo Jorge Nyembete, é o autor do romance inédito Rogilda, ou Breviário de Agonia, distinguido pelo júri da 8.ª edição do Prémio Imprensa Nacional/Eugénio Lisboa.

De acordo com o júri, composto por Lucílio Manjate (Presidente), Sara Jona e Paula Mendes, «Rogilda, ou Breviário de Agonia destaca-se pela atualidade da intriga, situada num tempo ambivalente entre o cronológico e o psicológico, o da Covid 19, em Moçambique e no mundo. Desta escolha, resulta um romance de pendor predominantemente psicológico e imersivo, cuja ação é centrada no espaço de uma casa. Com base neste tempo e espaço, a obra desafia o leitor a rememorar, com coragem, as experiências individuais e coletivas da pandemia, cujas sequelas ainda são visíveis no rosto da humanidade».

Na apreciação do júri, «ao explorar o tema da agonia, a obra cria uma atmosfera de tensão e suspense contínuo, que, ironicamente, prende o leitor na expectativa da morte iminente, a grande metonímia da pandemia de Covid 19. Há, no entanto, uma tentativa gorada de suicídio. Este ponto de viragem do romance leva o leitor a enfrentar outros temas e dilemas: a angústia, o isolamento, a solidão vs. companhia; a artificialidade vs. a naturalidade das relações humanas; o valor da felicidade e do amor diante de um mundo tecnologicamente opressor, entre outros».

A obra vencedora «destaca-se ainda pela narração, fluida e introspetiva, que se desdobra com recurso à técnica do flashback e na hábil alternância entre a primeira e a segunda pessoa. O investimento numa linguagem poética e plástica é notável. A poeticidade e plasticidade da sua linguagem centram-se, respetivamente, na descrição do mundo interior do protagonista, a partir do qual despontam inspiradoras reflexões filosófico-existenciais, e na evocação intertextual de nomes e obras da literatura e música moçambicana e universal. Resulta destas escolhas um romance polifónico e, ao mesmo tempo, seguro, coeso, que prova que Daúde Nossi Amade detém uma aguçada consciência do labor literário».

Daúde Amade nasceu na cidade de Maputo, em 1993. É professor, escritor e ensaísta, licenciado em Ensino de Filosofia com Habilitações em História pela Universidade Pedagógica, tendo também frequentado a licenciatura em Literatura Moçambicana pela Universidade Eduardo Mondlane. Tem textos publicados em revistas de Arte e Filosofia e em coletâneas nacionais e estrangeiras como: Um Natal experimental e outros contos, vol. 1 e 2 (Gala-gala edições, 2021 e 2022), Ubuntu: Literatura e ancestralidade (Gala-gala edições, 2022), Mazamera sefreu (Editora Kulera, 2023), Crónicas de Yasuke (Editora Kulera, 2024).

O Júri deliberou, ainda, atribuir uma menção honrosa ao original Na Boca do Hipopótamo, assinado por Changamire Dombo, pseudónimo do moçambicano Jeremias Macaringue. «Trata-se de um romance que faz jus à crescente aposta na narrativa policial sobretudo pela nova geração de escritores moçambicanos».

O Prémio Imprensa Nacional/Eugénio Lisboa, que visa selecionar trabalhos inéditos de grande qualidade no domínio da prosa, incentivando desta forma a língua portuguesa e a criação literária moçambicana, foi criado, em 2017, pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), numa parceria com o Camões – Centro Cultural Português em Maputo. Além de uma componente pecuniária, no valor de 5 mil euros, o Prémio contempla a publicação da obra vencedora sob a chancela da Imprensa Nacional.

 

Sobre a Imprensa Nacional

A Imprensa Nacional cumpriu mais de 250 anos de atividade de edição livreira, um percurso iniciado em 1768 com o estabelecimento da Imprensa Régia, que passa em 1833 a designar-se Imprensa Nacional. Em 1972 passou a ser parte integrante da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), uma sociedade anónima de capitais públicos. Herdeira de uma ampla experiência editorial e de um vastíssimo catálogo, a preservação e divulgação da memória e do património comuns da língua e da cultura portuguesas, aliadas a uma contínua renovação, constituem a missão. A renovação aliada à memória: a par de obras e autores consagrados, de temas e coleções tradicionais, surgem novos autores e inauguram-se coleções que conferem à linha editorial da editora pública o timbre que a mantém em consonância com a contemporaneidade e com a prestação de um serviço público.

 

Sobre a INCM

A INCM resulta da fusão de dois dos mais antigos estabelecimentos industriais do País, a Imprensa Nacional, criada em 1768, e a Casa da Moeda, com mais de 700 anos de história. Atualmente, a inovação tecnológica, desenvolvida em parceria com algumas das principais universidades e centros de investigação nacionais, é um dos pilares estratégicos da INCM, cuja missão é criar, produzir e fornecer bens e serviços que exigem elevados padrões de segurança, focados no cliente e em soluções inovadoras. Destacam-se, entre esses bens e serviços essenciais, a produção de documentos de segurança, como o cartão de cidadão ou o passaporte, a autenticação de metais preciosos, a edição do Diário da República, a publicação de obras fundamentais da língua e da cultura portuguesa e a cunhagem de moeda corrente e de coleção.

Créditos fotografia: Candy Dauce.