No âmbito da iniciativa Escritor do Mês, o Camões – Centro Cultural Português em Maputo dedica o mês de julho à escritora moçambicana Noémia de Sousa.
Com o objetivo de aprofundar o conhecimento do trabalho da escritora, terá lugar no próximo dia 8 de julho, às 17h00, uma sessão intitulada “Se me quiseres conhecer: Noémia de Sousa por Calane da Silva”. A sessão será dinamizada pelo reconhecido poeta, escritor e jornalista Calane da Silva, na Biblioteca do Camões - Centro Cultural Português.
Durante este encontro, Calane da Silva propõe uma apresentação do livro que se encontra a preparar sobre a escritora Noémia de Sousa, a (re)leitura de algumas obras da autora e uma troca de impressões com o público presente.
O Camões – Centro Cultural Português em Maputo promove mensalmente no espaço da Biblioteca, a iniciativa Escritor do Mês, que visa promover a leitura, sobretudo junto dos mais jovens, e contribuir para um melhor conhecimento e divulgação de escritores e obras em língua portuguesa. A obra e a biografia do autor escolhido são revisitadas e analisadas.
Todos os meses tem sido escolhido um escritor consagrado e, em parceria com instituições de ensino superior, associações e grupos de teatro, é realizada uma seleção de textos do autor e apresentada publicamente uma sessão que permite também explorar a possibilidade de dizer o texto literário. Escrita e oralidade estão, assim, também em foco nestas sessões.
As sessões são sempre gratuitas.
Notas Biográficas:
Noémia de Sousa nasceu em 1926 na Catembe e faleceu em Cascais (Portugal) em 2002. O pai de Noémia era originário de uma família luso-afro-goesa da Ilha de Moçambique e a mãe era natural de Bela Vista, filha de um chefe ronga, Belenguana. É autora de uma densa obra poética que representa a resistência da mulher africana e a luta do povo pela sua liberdade. O talento para escrita começou a ser praticado fazendo jornais de parede com os irmãos e, muito cedo, Noémia foi convidada a colaborar para o jornal da Mocidade Portuguesa. Noémia de Sousa sempre privilegiou a publicação dos seus poemas na imprensa, por achar que isso teria mais impacto nos jovens. Só muito tarde é que cedeu ao convite de publicar o seu único livro, Sangue Negro (2001), que reúne 46 poemas, escritos entre 1948 e 1951. Esse foi um período muito intenso no qual Noémia conviveu por perto com outras figuras tutelares das artes e letras de Moçambique: Ruy Guerra, Ricardo Rangel, João Mendes, José Craveirinha, Virgílio de Lemos, entre muitas outras. Foi assim que os textos apareceram na imprensa moçambicana (O Brado Africano, Itinerário, Msaho), angolana (Mensagem) e, mais tarde, portuguesa (Notícia de Bloqueio, Moçambique 58, Vértice). Após ter criado o movimento Negritude com José Craveirinha, em 1951 Noémia fugiu para Portugal para escapar à PIDE. Em Lisboa, cruzou-se com “geração da utopia”, que procurava promover a independência dos países africanos. Noémia trabalhou lado a lado com os nacionalistas africanos da atualidade: Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Marcelino dos Santos, Lúcio Lara, Agostinho Neto, Francisco José Tenreiro. Tendo sido perseguidos em Lisboa, muitos desses jovens fugiram para França. A Noémia ficou a viver em Paris, trabalhando na Embaixada de Marrocos até 1973, altura em que voltou para Portugal para trabalhar na agência Reuters.“Enquanto voz da Negritude, a voz de Noémia não é uma exaltação narcisista gratuita do ser negro, mas é do ser negro enquanto objeto da sujeição económica, cultural ou racial” (Francisco Noa). É uma poesia que “acaba por integrar elementos ideológicos que lhe permitiram funcionar simultaneamente como Manifesto estético e Manifesto político” (Fátima Mendonça). Pela sua influência nas gerações de poetas que se seguiram, Noémia de Sousa é considerada como a “Mãe dos poetas moçambicanos”.
Calane da Silva nasceu na cidade de Lourenço Marques (atual Maputo) a 20 de Outubro de 1945. Foi jornalista profissional durante 25 anos, tendo chefiado as redações dos principais órgãos de informação nacionais. É Mestre e também Doutor pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal. É docente na Universidade Pedagógica do Maputo. É membro fundador da Associação dos Escritores Moçambicanos, da Associação Moçambicana da Língua Portuguesa, da Organização Nacional de Jornalistas, atual Sindicato Nacional de Jornalistas, do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) órgão da CPLP, tendo sido Presidente do Conselho Científico do referido IILP. É igualmente membro da Comissão Nacional da Bioética e Presidente do Grupo Associativo Arco-Íris, Fitoterapia Ciência e Espiritualidade. Foi durante muitos anos Diretor do Centro Cultural Brasil Moçambique, um cargo do foro diplomático.Tem uma vasta bibliografia de mais de 17 livros publicados entre obras literárias (poesia, contos, romance e literatura infantil), assim como obras de foro académico entre ensaios e investigação na área linguístico-literária. Foram-lhe outorgados vários prémios literários e alguns galardões nacionais e internacionais como, por exemplo, o Prémio Literário 10 de Novembro, o Prémio José Craveirinha, o maior galardão literário do país, o Prémio Carreira, atribuído em 2013 pela AMEP (Associação Moçambicana de Empresas de Publicidade); o Prémio “Excelência na Pesquisa” que lhe foi outorgado pela Reitoria da Universidade Pedagógica por ocasião das comemorações dos 30 anos daquela Instituição de Ensino Superior; a Medalha de Mérito de Artes de Letras Outorgado pela Presidência da República de Moçambique e ainda inúmeros diplomas de honra no âmbito académico e da cultura nacional. Foi galardoado, em 2010, com a Comenda da Ordem do Rio Branco pelo Presidente da República Federativa do Brasil. Calane da Silva é ainda ator de teatro e de cinema, guionista de alguns filmes moçambicanos, é co-autor da letra do atual Hino Nacional e também declamador de poesia com um CD já editado pela Universidade Eduardo Mondlane.
17h00