Após a exposição “Os Mabundas”, apresentada em 2019 no mesmo espaço do Centro Cultural Português, Gonçalo Mabunda volta a ocupar as salas do “Camões” com criações mais recentes, produzidas a partir do seu novo espaço de trabalho. Para este projeto foi convidado Francisco Vidal, um talentoso artista reconhecido pelas suas instalações de pintura traçando poderosas linhas caligráficas sobre telas de serigrafia, em cores vivas e variados esquemas cromáticos. Francisco Vidal deslocou-se propositadamente a Moçambique para participar neste projeto e criar também, em conjunto com Mabunda, uma obra/instalação reflexiva.

A instalação referida interseta e promove o encontro entre linguagens e expressões distintas, que transitam da escultura para a pintura, e justapõem criações que se cruzam em vivências e inspirações cubistas de certa forma comuns, mas que se distinguem pela singularidade de percursos artísticos naturalmente distintos. Esta exposição é uma oportunidade única para o público poder usufruir da colaboração entre estes dois artistas estabelecidos e reconhecidos internacionalmente no mundo da arte contemporânea.

Esta iniciativa é organizada pelo Camões – Centro Cultural Português e conta com o patrocínio do Absa Bank. “O Apetrechar do Tempo” fica patente ao público até  dia 31 de agosto na Galeria do Camões – Centro Cultural Português em Maputo, de segunda a sábado, entre as 10h00 e as 17h00. Entrada livre.

Sobre os artistas:

 GONÇALO MABUNDA nasceu em Maputo em 1975, onde vive e trabalha. Começou a trabalhar em 1992 na Associação Núcleo de Arte, em Maputo, como assistente de galeria, e mais tarde como diretor. Em 1995 Gonçalo participou do workshop Ujamaa IV como assistente do artista sul-africano Andries Botha e em 1996 participou de um curso de metal e escultura de bronze durante 3 meses no Tecknikon de Natal na África do Sul.  O seu trabalho inspira-se na memória coletiva do seu país, Moçambique. Trabalha com armas recuperadas do final do conflito de dezasseis anos que dividiu a região pela guerra civil. Na sua escultura dá formas antropomórficas a materiais metálicos e objetos bélicos. As armas de guerra desativadas carregam fortes conotações políticas, mas os belos objetos que ele cria também transmitem uma reflexão positiva sobre o poder transformador da arte e a resiliência e criatividade das sociedades civis africanas. Embora se possa dizer que as máscaras se baseiam na história local da arte tradicional africana, o trabalho de Mabunda assume um toque modernista impressionante, semelhante às imagens de Braque e Picasso. Mabunda é também conhecido pelos seus tronos. Segundo o artista, os tronos funcionam como atributos de poder, símbolos tribais e peças tradicionais da arte étnica africana. São uma forma irónica de apresentar a sua experiência de infância e de crescimento na sociedade onde se insere. Tem realizado diversas exposições individuais em galerias e museus, das quais destacamos as seguintes: Akka Project Gallery (Dubai, 2018); Caroline Smulders, Cape Town Art Fair (Cidade do Cabo, 2018); Museu Abílio de Matos e Silva (Óbidos, 2017); All the World's Future, Bienal de Veneza (Veneza, 2015); Galerie du Passage (Paris, 2015); Jack Bell Gallery (Londres, 2013); Bozart Gallery (Lisboa, 2012); Afronova Gallery (Joanesburgo, 2008); 23 Gallery (Amsterdão, 2005). Mabunda tem participado em inúmeras exposições coletivas, nacional e internacionalmente, em que destacamos algumas das mais recentes: Camões – Centro Cultural Português (Maputo, 2019); “Alter Ego”, Annual Arts Exhibition between China and Portuguese – speaking Countries (Macau, 2018); “One and other”, Palais de Tokyo (Paris 2018); “Utopia/Dystopia”, MAAT (Lisboa, 2017); Lumières d'Afriques (Dakar, 2017); 1:54 Art fair (Nova Iorque, 2016); Guggenheim Bilbao “Making Africa A continent” (Bilbao, 2016); 1:54 Art fair (Londres, 2015); Bienal de Veneza (Veneza, 2015); Galeria 111 (Lisboa, 2014); Herbert Art Gallery & Museum (Coventry, 2013); Marrakech Art Fair Marrakech (Marrocos, 2012). A obra de Mabunda está representada nas mais reconhecidas coleções nacionais e internacionais. O seu trabalho foi adquirido, por exemplo, pelo Chazen Museum of Art da Universidade de Wisconsin-Madison, pelo Minneapolis Institute of Art e pelo Brooklyn Museum.

FRANCISCO VIDAL nasceu em Lisboa, Portugal, em 1978. Vive e trabalha entre Luanda e Lisboa. Recebeu o grau de Master of Fine Arts pela Universidade de Columbia em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América em 2010, depois de ter obtido o Bacharelato pela Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha, Portugal, em 2002, e de ter completado o Programa de Estudo Independente na Mamaus School of Visual Arts em Lisboa, Portugal, em 2005. Francisco Vidal é reconhecido pelas suas pinturas e desenhos sobre papel e tela produzidos manualmente, muitas vezes assemblados por forma a criar instalações de grande escala.  O trabalho do artista conjuga de forma singular várias influências estéticas, incluindo o cubismo, os têxteis africanos e a cultura hip-hop dos anos 80, bem como graffiti contemporâneo e a street art.  Nascido em Portugal, de pai angolano e mãe cabo-verdiana, o artista trabalha com ideias que estão intimamente ligadas à experiência da diáspora, explorando narrativas ligadas à identidade que derivam da educação transcultural.  A História colonial e as suas consequências são profundamente questionadas no seu trabalho, com uma forte ênfase no impacto das práticas laborais, nos conflitos e na violência. Exposições individuais recentes incluem Nova Angola, Memorial Dr. António Agostinho Neto, Luanda, Angola (2018); Alter Ego, Encontro em Macau, Sino-Lusophone Cultural and Arts Festival, Macau (2018); Estúdio, Lumiar Cité, Escola de Artes Visuais Maumaus, Lisboa, Portugal (2017); Luuanda Rising, Estúdio Wozen, Lisboa, Portugal (2017); um projeto individual em Focus: African Perspectives, The Armory Show, Nova Iorque, EUA (2016); Utopia Luanda Experience - Arquitectura da Paz, Galeria Baginski, Lisboa, Portugal (2016); Workshop Maianga Mutamba, Tiwani Contemporary, Londres, Reino Unido (2015); e Água e Luz, Instituto Camões, Luanda, Angola (2014). Francisco Vidal integrou o Pavilhão nacional de Angola para a 56ª Bienal de Veneza em 2015, bem como a Expo Milão 2015, em Itália. Em 2017, o seu trabalho foi exibido como parte do Festival Afropolitano em Bozar em Bruxelas, Bélgica, e em 2018, o seu trabalho foi incluído no Encontro em Macau, o Festival Cultural e Artístico Sino-Lusófono. Outras exposições coletivas incluem Artes Mirabilis, UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, Lisboa, Portugal (2018); Metamorfose, Jahmek Contemporânea, Luanda, Angola (2018); Portugal-Portugueses, Museu Afrobrasil, São Paulo, Brasil (2016); e Glocal - No Regional de um Espaço Sem Fronteiras, Estúdio Wozen, Lisboa, Portugal (2016). A obra de Vidal integra coleções portuguesas como a da Fundação EDP, Fundação PLMJ, e Fundação Calouste Gulbenkian, bem como a coleção de Arte Scheryn na África do Sul.