O mês de fevereiro no Centro Cultural Português na Beira é dedicado às Celebrações do Centenário do Nascimento de Carlos Paredes (1925-2025), reconhecido compositor e guitarrista português.

No âmbito das celebrações, terá lugar, no dia 18 de fevereiro, às 17h30, na Galeria, a cerimónia de inauguração da exposição “Carlos Paredes, a voz da Guitarra”.

A exposição, da autoria da equipa do CCP-Beira, desvenda a vida e obra de Carlos Paredes a partir de histórias, testemunhos e imagens.

Até dia 29 de março, alguns eventos e atividades complementarão a exposição, enquadrados nas celebrações do centenário do Mestre da guitarra portuguesa.

 

Bio-discografia

Carlos Paredes nasce em Coimbra a 16 de fevereiro de 1925. Filho de Artur Paredes, neto de Gonçalo Paredes e sobrinho-neto de Manuel Rodrigues Paredes, é herdeiro de uma vasta tradição familiar onde a guitarra esteve sempre presente.

(…)

Carlos Paredes nunca rejeitou a influência que recebeu, tanto da música popular portuguesa como do próprio fado de Coimbra. A renovação e reinvenção da sonoridade da guitarra portuguesa que fez, resultou duma geração de 60 revitalizada por novos conceitos socioculturais, onde floresciam as vozes de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes e António Bernardino, bem como a poesia de Manuel Alegre, a guitarra de António Portugal e as violas de Rui Pato e Luís Filipe, em suma, toda uma geração coimbrã que, preservando a riqueza etnomusical que a antecedia, revolucionou a guitarra por dentro e cantou valores que a projetariam inevitavelmente no futuro.

Desse gosto pela aventura nasceu uma vasta obra musical que, passando pelo Teatro, pelo Bailado e pelo Cinema, faz de Carlos Paredes um dos mais completos compositores / instrumentistas que a guitarra portuguesa conheceu, apesar de nunca ter optado pela profissionalização.

(…)

Após o 25 de Abril de 1974, Carlos Paredes faz parte da banda sonora da Revolução: as primeiras eleições livres (para a Assembleia Constituinte) são anunciadas diariamente na TV com música de Paredes. No ano das eleições (1975), o guitarrista edita um LP em que toca guitarra, sendo acompanhado por Manuel Alegre (que declama poemas de sua autoria). Este disco intitula-se "É preciso um País".

Carlos Paredes começa a frequentar alguns dos grandes palcos por essa europa fora e, sem o consentimento da sua editora é lançado na então RDA um LP intitulado "O Oiro e o Trigo" (de 1980), que reúne material inédito gravado em 73 e 75. Nesse país já tinha sido lançada uma compilação do mestre intitulada "Meister der Portugiesischen Guitarre", em 1977.

(…)

O seu último disco, "Na Corrente" é lançado em 1996, quando o genial guitarrista já está impedido pela doença de participar em espetáculos e de gravar discos. Esta gravação reúne diverso material inédito.

O guitarrista cresceu num ambiente de discreta resistência e contestação política ao regime salazarista pelo que, em 1958, aderiu ao então clandestino Partido Comunista Português. Na manhã de 26 de setembro desse mesmo ano foi preso pela PIDE no seu local de trabalho, permaneceu detido por 18 meses e depois de sair em liberdade foi suspenso do Hospital de S. José, trabalhando durante alguns anos como delegado de propaganda médica.

(…)

A última atuação em público de Carlos Paredes foi em outubro de 1993, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, acompanhado por Luísa Amaro.

Em dezembro de 1993 foi-lhe diagnosticado um grave problema de saúde que o impossibilitava de tocar guitarra e que o manteve afastado da vida activa até à data do seu falecimento, em 2004.

A sua obra fez escola e assume, na cultura musical portuguesa, um valor incalculável. Entre junho e setembro de 2000, o Museu do fado deu a conhecer o percurso biográfico e profissional de Carlos Paredes, através de uma exposição temporária de título "Estar com Paredes".

 

Fonte:

Museu do Fado, a partir do texto elaborado com base no catálogo da exposição "Estar com Paredes", CML/EBAHL, 2000.