Fátima Taquidir, que concorreu sob o pseudónimo de Gaiaguango, é a vencedora da edição de 2023 do Prémio Imprensa Nacional/Eugénio Lisboa, pelo seu trabalho Disrupção.

Constituído por Lucílio Manjate (Moçambique), na qualidade de Presidente,  Sara Laisse (Moçambique) e Paula Mendes (Portugal), o júri deliberou atribuir o prémio a Disrupção, de Fátima Taquidir, por considerar que este trabalho constitui «uma ousada e agradável combinação entre o romance histórico e psicológico, que explora tanto o paradoxo como a síntese de paisagens e culturas, servindo-se a autora da descrição como expediente técnico de assinalável alcance imagético e simbólico, aliada a uma investigação documental cuidada.»

Disrupção explora, de forma consistente e cativante, o cenário da guerra civil em Angola, pano de fundo usado pela autora para representar todo um mundo conturbado, universalizado pelo desenvolvimento da trama por diversos outros espaços: Portugal, Brasil e Cuba, onde laços familiares e sociais estão em constante rutura.

O Júri deliberou, ainda, atribuir duas menções honrosas aos originais Demónios na terra dos anjos, de Geremias Mendoso (1996, residente em Nampula), assinado pelo pseudónimo Maria de Fátima José, e As patas de elefante do meu pai, de Gonçalo Cardoso (1988, residente em Maputo), assinado pelo pseudónimo Moze.

O Prémio Imprensa Nacional/Eugénio Lisboa contempla a edição da obra vencedora, bem como a atribuição do valor monetário de 5000 € (cinco mil euros) ao(à) vencedor(a).

Concorreram à edição deste ano do Prémio um total de 42 textos.

O Prémio Imprensa Nacional/Eugénio Lisboa foi criado em 2017, numa parceria com o Camões – Centro Cultural Português em Maputo, pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, dando corpo à sua missão de promoção e preservação da língua portuguesa, e visa selecionar trabalhos inéditos de grande qualidade no domínio da prosa literária. Além da componente pecuniária, contempla ainda publicação das obras distinguidas em cada edição, incentivando desta forma a criação literária moçambicana. Fátima Taquidir deverá ver assim o seu trabalho publicado já no próximo ano pela editora pública portuguesa.

Fátima Issufo Camal Taquidir (Inhambane, 1958) estudou e viveu em Inhambane até aos 16 anos, momento em que se muda para Maputo e completa os estudos na Escola Comercial. Trabalhou na área comercial da empresa Zuid Indatec. Viveu na cidade da Beira durante 5 anos, onde trabalhou na Sena Sugar, como secretária do gabinete da comissão administrativa. De regresso a Maputo trabalhou no departamento de contabilidade da Ecoproco e numa organização não governamental. Mãe de três filhos e avó de três netos, ficou viúva muito cedo. Em 2002, emigrou para Portugal, onde reside desde então e tem trabalhado em diversas áreas, desde a hotelaria e restauração aos correios. Sem obra publicada, e nunca tendo pisado solo angolano, este livro é pura ficção e foi surgindo das histórias romanceadas, contadas por pessoas que por lá passaram, e que agora lhe são próximas. A atribuição deste prémio, aos 65 anos de idade, foi, para a autora, «completamente inesperada», mas certamente irá estimular o seu entusiasmo para «continuar a alinhavar as palavras que possam constituir alguma outra estória».