
O Grande Hotel da Beira é provavelmente o edifício ocupado mais populoso do mundo. É um dos símbolos da cidade, construído em meados dos anos 50, que encarna a história da cidade e de Moçambique. Um local de opulência e concebido para estar entre os hotéis mais luxuosos da África. Um lugar apenas para os ricos, na sua maioria brancos. No estilo Art Déco, as fachadas, com as suas enormes formas geométricas e repetições arquitetónicas, foram concebidas para representar a modernidade. Enquanto o exterior não tinha ornamentação ou motivos intrincados, os interiores com salas e escadas sumptuosas eram feitos de materiais caros e modernos bastante raros na região. O Grande Hotel ficou famoso no mundo, mas fechou as suas portas em 1963 porque, durante os seus oito anos de funcionamento, nunca foi rentável, dado que poucas pessoas se podiam dar ao luxo de ficar em algum dos seus 116 quartos.
Nos anos seguintes, abriu apenas em algumas ocasiões para acolher grandes eventos. Durante os 16 anos da guerra civil, o edifício serviu, inicialmente, como base do exército e prisão e, mais tarde, como campo de refugiados. Foi só depois de ter sido abandonado do seu uso original que os quartos foram preenchidos pela primeira vez. Desde então, o Grande Hotel tornou-se num lar para as pessoas mais vulneráveis numa cidade em constante crescimento. Estima-se que 4.000 pessoas, muitas delas crianças e adolescentes, vivam atualmente no local, ocupando todos os quartos e todas as secções do edifício, incluindo as escadas, longos corredores e caves. A estrutura é forte, porém está a deteriorar-se lentamente. Ocasionalmente, alguns tetos e paredes caem, o que constitui uma preocupação para as pessoas que ali vivem, que fazem o seu melhor para manter o edifício limpo e seguro. O ciclone Idai, em março de 2019, deixou também a sua marca, tanto no Grande Hotel como nas memórias daqueles que lá vivem.
Texto de Paolo Ghisu.
FULLY BOOKED é a primeira reportagem de Paolo Ghisu, realizada entre outubro de 2020 e julho de 2021. O fotógrafo começou a visitar regularmente o Grande Hotel, inicialmente para documentar o trabalho ali realizado pela ONG Terre des Hommes Itália (TDH). Com o passar do tempo, muitos dos habitantes começaram a abrir-lhe as portas das suas casas. Durante meses, partilhou com os moradores muitos momentos quotidianos, assentes na precariedade, mas, por outro lado, na força e na determinação para enfrentarem o dia a dia.
Paolo Ghisu nasceu e cresceu em Trento, na Itália. Licenciado em Economia e Relações Internacionais, passou por várias ONG e organizações internacionais, para as quais colaborou, gerindo projetos em todo o mundo. Entre 2018 e 2021, viveu na Beira, Moçambique, onde trabalhou como coordenador do Consórcio Associações com Moçambique (CAM), uma ONG italiana, e com outras organizações internacionais.
O fotógrafo sempre foi apaixonado pela fotografia e, em 2020, decidiu torná-la parte da sua vida profissional, quando iniciou um curso de formação em fotografia e narração visual de histórias com fotógrafos italianos e brasileiros. Através do seu trabalho, conta histórias de sustentabilidade, diversidade, vulnerabilidade e resiliência. Atualmente, vive entre a Itália e Moçambique.
Ficha Técnica da exposição:
Autoria - Paolo Guisu
Organização - Centro Cultural Português da Beira
Coordenação - Celina Martins Santos
Design - Bruno Alves
Impressão - Digital Express, Graphic’s & Auto Parts
Keep In Touch Business Center Lda.