Os bailarinos e coreógrafos João dos Santos Martins (Portugal) e Cyriaque Villemaux (França) estão em Maputo para a apresentação de três eventos — uma performance/instalação, um workshop e o espetáculo Autointitulado.
No dia 23 de Março, às 18h00, no Camões — Centro Cultural Português em Maputo, terá lugar a performance/conferência/instalação Dança da Crise ou Talvez Ele Pudesse Pensar Primeiro e Dançar Depois ou Como Fazer Coisas sem Dança ou Oldschool#40 de e com João dos Santos Martins, após um convite de Susana Pomba, com coreografia de Cyriaque Villemaux.
Esta peça estreou no final de 2015, no âmbito do projeto Old School em Lisboa (Portugal) e teve origem numa conferência/performance chamada Dança da Crise (Viena, 2013) que se debruçava sobre a ligação entre a dança, crise e finanças e na qual João dos Santos Martins interpretava uma curta coreografia de Cyriaque Villemaux.
Nesta versão mais recente, iluminada pela conferência/performance Product of Circumstances (1999) de Xavier Le Roy, João dos Santos Martins decidiu não dançar para “Dar um novo enfoque a este espaço expandido e de hibridismo formal que é a dança”, expondo a coreografia em formato de instalação/arquivo com um vídeo, um poema, uma carta e uma partitura. João dos Santos Martins pretende, assim, discutir as barreiras que são constantemente colocadas entre a dança e a performance, o instinto compulsivo de usar rótulos e as definições hegemónicas ocidentais do que é dança ou não é dança.
Entre os dias 27 e 29 de Março, irá decorrer no Centro Cultural Franco-Moçambicano um workshop de dança contemporânea sobre práticas de imitação e reconhecimento sob a orientação dos artistas João dos Santos Martins e Cyriaque Villemaux. A partir de uma série de exercícios onde se materializa uma ideia de cópia por aproximação, procurarão analisar em conjunto as semelhanças e diferenças entre várias ações e movimentos e, por sua vez, traduzi-las noutros suportes de performance. Este workshop contará com a participação de um grupo de bailarinos moçambicanos que participarão na formação.
Este momento de partilha e intercâmbio de conhecimentos culminará com a apresentação pública dos resultados do workshop de dança que terá lugar no dia 29 de Março, pelas 19h00, no auditório do CCFM.
No dia 31 de Março, às 20h30, terá lugar também no Centro Cultural Franco- Moçambicano o espetáculo Autointitulado de João dos Santos Martins e Cyriaque Villemaux.
Autointitulado oferece-nos uma viagem por certos fantasmas da história da dança, pessoal e paradigmática, sem se prender a uma dança em particular, mas uma série de danças, ou melhor, a uma série de memórias e ideias de dança. Construída a partir de improvisações gravadas e, em seguida, analisadas em função do que elas sugerem à memória dos bailarinos, a coreografia foi concebida como uma repetição em ambos os sentidos da palavra: a repetição dos ensaios durante o período de concepção da peça e a repetição na apropriação de frases ou movimentos (re)conhecidos, posteriormente editados através de métodos de collage. Autointitulado é, então, como um álbum que percorre imagens marcantes, reminiscências da memória coletiva ou de certos clichês e inconscientes da dança. A partir desses fragmentos, tanto familiares como monstruosos, os bailarinos convidam o público a completar a parte que falta, para construir as suas próprias ficções.
Esta é uma iniciativa que resulta de uma parceria entre o Camões — Centro Cultural Português em Maputo e o Centro Cultural Franco-Moçambicano, com o apoio do Ministério da Cultura do Governo de Portugal e da Direção-Geral das Artes, através do Programa de Apoio à Internacionalização.
João dos Santos Martins nasceu em Santarém no ano de 1989. É licenciado em Dança pela ESD — Lisboa (2010) e mestre em Estudos Coreográficos pela Paul Valèry III/ex.e.r.ce, programa dirigido por Mathilde Monnier em Montpellier (2013). Frequentou igualmente a Codarts, a P.A.R.T.S. e o MA-CuP em Giessen, dirigido por Bojana Kunst.
Colabora como intérprete com Eszter Salamon e Xavier Le Roy e trabalhou anteriormente com Cão Solteiro, Ana Borralho & João Galante e Rui Horta, entre outros. Do seu trabalho contam a adaptação do solo Conquest (2010) de Deborah Hay, a reconstrução de Continuous Project Altered Daily (1970 - 2011) de Yvonne Rainer, em colaboração com os alunos ex.e.r.ce, Xavier le Roy e Christophe Wavelet, e a produção coreográfica de Tropa Fandanga (2014) do Teatro Praga. Criou Le Sacre du Printemps (2013), co-dirigido com Min Kyoung Lee, Masterpiece (2013), Projecto Continuado (2015) — Prémio Autores SPA 2016 — e Autointitulado (2015) com Cyriaque Villemaux. A convite de Susana Pomba para o programa Oldschool criou Oldschool#40 ou Talvez Ele Pudesse Pensar Primeiro e Dançar Depois, ou Como Fazer Coisas sem Dança ou Dança da Crise, 2015. Mais recentemente, foi convidado a dirigir Vera Mantero, João Fiadeiro, Clara Andermatt e Paulo Ribeiro no evento Reencontro (2016) onde, juntamente com Ana Bigotte Vieira, elaborou o projecto de historização coletiva da dança em Portugal Para uma Timeline a Haver. A convite do Walk&Talk Azores criou #dancewithsombody (2016) para e com o Núcleo de Artes Performativas 37,25.
João dos Santos Martins recebeu a bolsa de mérito da ESD-IPL 2008/09, foi bolseiro do programa danceWeb 2010, do Centro Nacional de Cultura (2010), do programa ENPARTS (2010/11) e da Fundação Calouste Gulbenkian (2011-13). É atualmente artista residente da Circular Associação Cultural e prepara um novo projeto com Rita Natálio, Antropocenas, que terá a sua estreia em 2017. O seu trabalho foi apresentado em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Áustria, Roménia, República da Coreia e Nova Zelândia.
Cyriaque Villemaux nasceu em Offenburg, em 1988. Estudou dança contemporânea no Conservatório Nacional de Música e Dança de Paris. Em 2012, graduou-se na p.a.r.t.s em Bruxelas. As suas colaborações FR/PT e G#$*&! / Disagreement / How to Dance Things with Doing integraram eventos como o Festival d’Automne de Paris (2012) e Tanz im August (2012). Cyriaque Villemaux tem trabalhado com Noé Soulier (Little Perceptions), assim como com Xavier Le Roy (Rétrospective) e atualmente trabalha com Pierre Leguillon (La Grande Evasion). Em 2013, colaborou com Julie Kowalczyk no projeto Carte, a Children´s Book no Musée de la Danse, CCN de Rennes. Uma versão mais antiga desta biografia mencionava o seu interesse em tradução. Este interesse encontrou uma forma de se realizar, por ocasião do lançamento do livro Rétrospective par Xavier Le Roy em que Cyriaque Villemaux traduziu para o francês as entrevistas entre Xavier Le Roy e Bojana Cvejic (2014). Entre 2014 e 2015, Cyriaque Villemaux foi pesquisador do Akademie Schloss Solitude, onde criou The Stuttgart Pieces and Covers em colaboração com Néstor Garcia Díaz e Bolglárka Börcsök. Recentemente trabalhou num dueto com Polina Akhmetzyanova que estreou no final de 2016 em Châteauroux.
Ficha Técnica do espetáculo Autointitulado:
Um projecto de e por: Cyriaque Villemaux e João dos Santos Martins
Desenho de luz: Rui Monteiro
Operação de luz: Pedro Correia
Co-produção: Circular Festival de Artes Performativas, Alkantara Festival
Produção executiva e difusão: Circular Associação Cultural
Residências artísticas: Alkantara, O Espaço do Tempo, danceWEB no contexto do projecto Life Long Burning subsidiado pelo programa Cultura da União Europeia, A22, Graner, Circular Festival de Artes Performativas
Apoio: Fundação Calouste Gulbenkian e Teatro Sá da Bandeira — Santarém
Agradecimentos: Fórum Dança, O Rumo do Fumo, Nome Próprio, o Espaço do Tempo, Aristide Bianchi, André E. Teodósio, Diana dos Santos Martins, Manuel João Martins, Polina Akhmetzyanova
Apoio para a apresentação em Maputo: República Portuguesa — Cultura, Direcção-Geral das Artes (Programa de Apoio à Internacionalização), Camões — Centro Cultural Português em Maputo e Centro Cultural Franco-Moçambicano.
Duração: 70 minutos
23 Março — Performance / Instalação (Camões — Centro Cultural Português em Maputo) 27 a 29 Março — Workshop (Centro Cultural Franco-Moçambicano) 29 Março — Mostra do Workshop (Centro Cultural Franco-Moçambicano) 31 Março — Espetáculo Autointitulado (Centro Cultural Franco-Moçambicano)