RE-CONSTRUIR gira em torno de uma espiral chocante e viciosa. Como a necessidade de trabalho é reduzida e a diferença de pobreza aumenta, as pessoas são compelidas a procurar combustível: famílias derrubam árvores para produzir carvão para vender, bem como para se aquecer e cozinhar; dia após dia, luta-se pela sobrevivência; homens, mulheres e crianças procuram construir uma nova vida na Beira.

As imagens intensas são muito mais do que documentos visuais da vida das pessoas da Beira.

Como Dante, passando pelos nove círculos concêntricos do Inferno numa descrição alegórica do reconhecimento e de rejeição do pecado, Macilau, num extenso ciclo de cores, cria um vórtice simbólico entre a vida e o esquecimento, onde as personagens se fundem com a cidade em acabamento, fazendo renascer uma misteriosa presença de vida e força.

David Elliot

Oxford, 2023 (texto editado e adaptado)

A sua fotografia destaca a identidade, questões políticas e condições ambientais, trabalhando, por vezes, com grupos socialmente isolados, para que o seu público tome consciência não apenas das muitas injustiças e desigualdades sociais no mundo, mas também das histórias de humanidade, irmandade, vitória, amor e esperança. Com frequência, o retrato é o seu ponto de partida, sendo a sua abordagem instrumental a revelação de uma perspetiva mais ampla.

Para Macilau, a fotografia tem o poder de mostrar verdades cruas acerca da vida, de desenvolver a consciência e a perceção social dos problemas de Moçambique, bem como de outros locais. As suas fotografias desvendam como determinados ambientes afetam a vida pessoal ou profissional dos indivíduos, procurando sempre obter a confiança dos seus sujeitos, de forma a evitar que a presença física da sua câmara se torne uma barreira mental ou emocional.

Mário Macilau é um artista multidisciplinar e ativista, mais conhecido pelo seu trabalho como fotógrafo. Nasceu em 1984, em Maputo, tendo crescido a trabalhar arduamente para ajudar a sustentar a sua família, tal como muitas outras crianças, para fazer face às difíceis condições de vida em Moçambique.

Em 2003, Macilau iniciou a sua atividade fotográfica, passando o início da carreira a aprender e a desenvolver as suas técnicas. Em 2007, lançou-se como fotógrafo profissional, trocando o telemóvel da sua mãe, sem o seu conhecimento, por uma Nikon FM2. Poucos anos depois, o seu talento atravessou fronteiras, tendo sido galardoado com diversos prémios internacionais de relevo, viajado muito e visto o seu trabalho publicado em algumas das mais prestigiadas galerias, feiras de arte e exposições por todo o mundo.

Em 2015, foi publicado o seu primeiro livro de grande formato pela editora alemã Kehrer Verlag, contando com contribuições escritas de Roger Ballen, Mia Couto, Simon Njami e Olivia Nitis.

PRÉMIOS:

2010 - Concurso de Jovens Fotógrafos do ACP; 2011 - Prémio da Fundação EVTZ, Alemanha; 2011 - Prémio Santa Lucía, Espanha; 2011 - Prémio AECID para criação; 2011 - Prémio de Talento, Embaixada Francesa, Maputo; 2012 - Visa Pour La Création do Instituto Francês; 2012 - Primeiro Prémio do Projeto de Proteção, em Washington D.C., EUA.

Macilau foi ainda eleito pela revista Foreign Policy como um dos “100 Leading Global Thinkers”, numa cerimónia em Washington D.C. (2015), Lens Cultures, em 2017, e arrecadou o prémio francês Denis Diderot, em 2019.

O trabalho de Macilau tem sido presença assídua em exposições individuais e coletivas, tanto no seu país natal como no estrangeiro. Destacamos a Feira de Arte 1:54 em Londres, Reino Unido (2018); Art Madrid em Madrid, Espanha (2018 e 2019); Art Marbella, Espanha (2018); Terceira Bienal de Fotografia de Pequim, Pequim, China (2018); Unseen, Amsterdão, Holanda (2018); Feira de Arte FNB de Joanesburgo, África do Sul (2018); a Cimeira Mundial do Clima, São Francisco, EUA (2018); o High Museum of Art em Atlanta, Geórgia, EUA (2018); Festival IPhoton, Valência, Espanha (2017); Festival Photomonth de Cracóvia, Cracóvia, Polónia (2017); o Festival Indiano de Fotografia — IPF (2017); Hyderabad, Índia (2017); Semana de Arte de Berlim na Galeria Kehrer, Berlim, Alemanha (2017); Festival Photobook da Sicília, Sicília, Itália (2017); Festival de Fotografia do Porto, Porto, Portugal (2017); “I don’t like Black People but I do like you”, Galeria Paulo Nunes, Portugal (2017); Festival de Fotografia de Tbilisi, Tbilisi, Geórgia (2017); Feira de Arte AKAA, Paris, França (2016).

Inauguração dia 10 de agosto, às 18h00.